Silêncio!

Um ensurdecedor silêncio escorre pelas paredes do barracão vazio de cores e brilhos.

Os sons, os burburinhos de vozes alegres e festivas emudecerem. Cederam lugar aos gorjeios das aves que ainda teimam em pisar o chão outrora repleto de plumas, lantejoulas, paetês, purpurinas e cetins.

Tudo agora é um imenso vazio.

Vazio da alegria colorida; dos sorridos fartos; dos suores a lambuzar os rostos; das mãos habilidosas  a tecer os sonhos; das  alegorias e adereços a balançar entre as estruturas de ferro e gesso em meio ao pó que subia como filetes de fumaça coroando as cabeças assoberbadas de ideias.

Os tambores emudeceram.

As cuícas não gemem mais.

Os repiques evaporaram pelo ar pesado como fumaça que se esvai no vento da incerteza de tudo.

Onde estão os alegres foliões que enchiam de euforia e luz as paredes cruas do barracão?

Em que nuvens se esconderam osbroçhos,as luzes que refletiam nos olhos das gentes e se espalhanam pela imensidão das ruas?

Porque se calaram os gritos, as vozes?

Porque cessaram os gritos; os aplausos; as torcidas?

No céu uma nuvem espessa e fria soprou pelo ar todos aqueles lampejos de felicidade como se varresse a poeira acumulada pelo tempo, para debaixo do tapete.

Adormeceu os sonhos.

Escondeu os brilhos.

Embaralhou os passos.

Distorceu os compassos.

Amarrou os laços.

Emudeceu as vozes.

O grito ficou preso na garganta.

Os passos ficaram soltos no ar.

Os brilhos adormeceram nos sonhos.

O que restou?

Restou a esperança ainda escondida nos cantos do barracão vazio.

Esperança de que tudo possa outra vez se erguer do chão frio e fluido encher os pulmões de ar; colorir os céus de euforia e brilho; acertar os passos no compasso do ritmo inebriante da marcação.

E então ouvir a multidão gritar uma vez mais: "É campeã!"


Ana Lopes








Ana Maria de Souza Lopes

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