Beatrice



Recentemente assustei-me ao olhar no espelho e me deparar com outra de mim. Já tinha Alice, Cora, Clara e agora via mais uma. Pensei estar sonhando quando a vi ali, postada bem ao meu lado com aquele olhar de preguiça, olhar de mormaço a guisa de Capitu. Era Beatrice. Uma mulher madura, algumas vezes decidida indo de encontro aos embates, outras, tímida se esgueirando pelas frestas da parede, como um bichinho assustado em dias de fogos de artifício. Beatrice se mostrou por inteira já na primeira visita e eu me encantei por ela. Parecia ser tudo o que eu desejava para mim. Aos poucos Beatrice foi revelando as várias facetas que sobrevoavam seus sentidos: um sorriso ingênuo de solidão, uma fala atrevida entremeada de sentimento, um olhar perspicaz e irreverente e muitos desejos escondidos nas dobras do tempo. Hoje ela está perto quando o desassossego ameaça se apoderar de mim. Ela me segura pela mão, direciona minha lucidez para que eu prossiga tranquila em meu caminho na direção do vento.


Ana Lopes



ByLopes

Ana Maria de Souza Lopes

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