As faces do meu eu


Só quando fui deitar é que me dei conta do que havia acontecido. As mulheres que me habitam estavam todas lá, me esperando para desejar Boa Noite. Olhei para os lados e lá estavam as cinco. Cinco? Como pode ser? Até outro dia eram quatro e agora apareceu mais uma!? Quem é você? Quando chegou? Perguntei entre curiosa e assustada. Eu sou você mesma. Sou sua alma refletida no espelho do amanhã. Como assim? Quis logo saber. Minha voz ficou embargada, embaraçada nas linhas, nas dobras do tempo. Inerte, entre a janela e a cama, pensei, mas não disse as palavras que desejava. Enredei-me por devaneios em busca da minha realidade ansiada. Perdi-me no tempo. Ou será que foi o tempo que me perdeu? Não sei. Olhei para o canto e vi a mala das boas lembranças escondida atrás da cortina diáfana. Senti o perfume de jasmim que de lá exalava pelo quarto. Meu olhar perdido e inseguro vagou pelo espaço e sobrevoou meu coração palpitante. Como um tiro que resvala, que chispa e cospe, senti todo o meu corpo adormecer.  Ouvi o silêncio nas sombras e o mundo foi aos poucos se revelando a mim como um primeiro beijo, ardente, intenso, escondendo segredos. De olhos fechados tentei capturar toda a delicadeza do instante antes da entrega. E então me deixei levar pelos caminhos sombrios da noite.

Ana Lopes



   Alice        Cora          Clara         Beatrice    Eu mesma
ByLopes


                             

Ana Maria de Souza Lopes

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