Quando pensei que ninguém mais iria aparecer, eis que numa tarde
iluminada de verão, Clara surge intempestiva, carregando o sol em seu sorriso e
o vento no rosto corado e irrequieto. Como um furacão, atravessou, sem pedir
licença, a porta do meu coração e logo se deparou com Alice e Cora que,
assustadas com tamanho furor, encolheram-se em um canto dando passagem àquele
vendaval de sentimentos avassaladores. Clara exalava um odor contagiante por
todos os poros e logo o meu corpo inteiro foi tomado por uma tal euforia, um
não sei quê de felicidade que jamais experimentara e também não conseguia
explicar. Foi tanta euforia, tanto desatino, que Cora logo se achegou para
colocar um pouco de ordem naquela bagunça que já tomava proporções
imensuráveis. Com seu jeitinho doce e calmo foi recolhendo os vestígios
deixados pelo caminho (pequenos cacos) e os depositou em um cantinho especial
onde o vento não pudesse bater novamente para espalhá-los. Clara continuou seu
caminho espalhando as folhas - restos de histórias -, salpicando desejos -
potes de fantasias esquecidas -, esticando os fios das malhas e redes - astúcias entrelaçadas do tempo. Cora ia remendando aqui,
costurando ali e escondendo cada pedaço (caco) na sombra do vento rodeado de
melodias e refrões. Clara ainda me acompanha ao largo, contrapondo sonho,
realidade e muita euforia.
Ana Lopes
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